
segunda-feira, 31 de março de 2008
África Latina

domingo, 30 de março de 2008
O Código das 3 regras

sábado, 22 de março de 2008
Reciclar mentalidades precisa-se!

segunda-feira, 17 de março de 2008
Continente sem lágrimas

sábado, 8 de março de 2008
Amor,
Desta cela de afectos onde tenho habitado nestes últimos tempos escrevo-te para dizer que mantenho o nosso plano de fuga. E que por mais que me tentem vergar à indigência deste dia-a-dia cego, surdo e mudo de todos os sentidos asseguro-te que jamais resvalarei para contar os nossos segredos. Os que vimos trocando há já demasiado tempo para que precisemos de os gravar. Tanto os que estão inscritos nas areias da praia das Caxinas como na de Oostende, os que porventura semeamos junto à capela de S. Felix ou à sinagoga de Tomar, os que fomos enterrando nas cercanias do desalento de S. Teotónio e julgamos reaver na euforia de Amsterdam, os que confidenciamos no aconchego de moules e pastas nas Grand Place ou entre as pulgas-do-mar das dunas de Santo André, entre o mistério enfim de tantas referências de santos e o centro do mundo que foi durante algum tempo aquele abençoado apartamento de Antwerpen. E mesmo que nos tenham visto a calcorrear as ruas de Paris, garanto-te que não conseguirão arrancar-me o código do que procuramos na Eglise de Saint Eustache. Já por mais de uma vez tentaram roubar-me a memória, a que subsiste num círculo de dois metros quadrados em teu redor, mas apenas conseguiram ficar-me com o escalpe. Preservei entretanto tudo o resto, dos teus cheiros de menina, mulher e mãe, da tua pele porosa e aveludada, das tuas mãos finas e sardentas, da sofreguidão com que costumas procurar-me, do açucarado do teu corpo quando o revelo, da calidez húmida do teu abraço que ainda hoje sinto adormecer enfaixado no meu, da sensação de que te ouço chamar-me, ora vê lá tu, aqui, nos sítios e ocasiões mais improváveis. Por precaução, deixei de trazer as tuas fotos na carteira. Não quero que te reconheçam quando olham para mim ou quando eu próprio me vejo ao espelho. Lembro-me do Bergman e daquele casal que celebrava serem cada vez mais siameses porque fecundados no óvulo de uma vida em comum, o que os revelava iguais em cada gesto, da cara, das mãos, da voz, de tudo o que partilhavam. Tenho assim enganado os meus carcereiros. Mais o árido esforço com que tentam convencer-me de que não existes porque não estás aqui, que não te sinto porque estás longe, que não te ouço porque deixaste de chamar por mim, que não te posso tocar porque não me acompanhas nos meus dias. Ignorantes. Não sabem que a cela que construímos é bem mais forte do que a deles.
Desta cela de afectos onde tenho habitado nestes últimos tempos escrevo-te para dizer que mantenho o nosso plano de fuga. E que por mais que me tentem vergar à indigência deste dia-a-dia cego, surdo e mudo de todos os sentidos asseguro-te que jamais resvalarei para contar os nossos segredos. Os que vimos trocando há já demasiado tempo para que precisemos de os gravar. Tanto os que estão inscritos nas areias da praia das Caxinas como na de Oostende, os que porventura semeamos junto à capela de S. Felix ou à sinagoga de Tomar, os que fomos enterrando nas cercanias do desalento de S. Teotónio e julgamos reaver na euforia de Amsterdam, os que confidenciamos no aconchego de moules e pastas nas Grand Place ou entre as pulgas-do-mar das dunas de Santo André, entre o mistério enfim de tantas referências de santos e o centro do mundo que foi durante algum tempo aquele abençoado apartamento de Antwerpen. E mesmo que nos tenham visto a calcorrear as ruas de Paris, garanto-te que não conseguirão arrancar-me o código do que procuramos na Eglise de Saint Eustache. Já por mais de uma vez tentaram roubar-me a memória, a que subsiste num círculo de dois metros quadrados em teu redor, mas apenas conseguiram ficar-me com o escalpe. Preservei entretanto tudo o resto, dos teus cheiros de menina, mulher e mãe, da tua pele porosa e aveludada, das tuas mãos finas e sardentas, da sofreguidão com que costumas procurar-me, do açucarado do teu corpo quando o revelo, da calidez húmida do teu abraço que ainda hoje sinto adormecer enfaixado no meu, da sensação de que te ouço chamar-me, ora vê lá tu, aqui, nos sítios e ocasiões mais improváveis. Por precaução, deixei de trazer as tuas fotos na carteira. Não quero que te reconheçam quando olham para mim ou quando eu próprio me vejo ao espelho. Lembro-me do Bergman e daquele casal que celebrava serem cada vez mais siameses porque fecundados no óvulo de uma vida em comum, o que os revelava iguais em cada gesto, da cara, das mãos, da voz, de tudo o que partilhavam. Tenho assim enganado os meus carcereiros. Mais o árido esforço com que tentam convencer-me de que não existes porque não estás aqui, que não te sinto porque estás longe, que não te ouço porque deixaste de chamar por mim, que não te posso tocar porque não me acompanhas nos meus dias. Ignorantes. Não sabem que a cela que construímos é bem mais forte do que a deles.
sábado, 1 de março de 2008
O sorriso do motorista

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