quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Post aberto à Movicel

Exmos. Senhores,

Serve o presente para protestar, se entretanto esta conexão não fôr abaixo, contra o péssimo serviço de internet oferecido pela Movicel. Ando a pagar religiosa e mudamente uma mensalidade de 50 dólares pela utilização, tantas vezes inútil, de um plástico em forma de cilindro-rectângulo a que chamam MoviNet, o qual, para além de gago, tem demonstrado ser mentiroso. Auto intitula-se High Speed mas há muito que descobri ter a velocidade de um cágado. Quantas vezes, regressado do trabalho, quero utilizá-lo para abrir um blog, por exemplo, dos meus ilustres followers e acabo por adormecer durante o loading. Ou quero escrever um post directamente neste blog e entretanto falha a conexão antes de o conseguir publicar. Ou sou proibido de me apresentar na parada diária com os meus porque o Windows Live Messenger falhou. Ou, finalmente, quero publicar uma música tirada do You Tube e tenho de esperar horas para a conseguir ouvir de princípio a fim. Meus Senhores, sei bem que a Movicel faz parte da operadora estatal Angola Telecom, a qual, pese a recente gestão chinesa, tem capitais maioritariamente nacionais e, como tal, estará prioritariamente ao serviço do povo angolano. Sem pretender, mero expatriado, ultrapassar a fila dos, certamente, milhões de utilizadores de internet que vivem nos musseques, não posso deixar de me insurgir quanto à baixíssima qualidade deste acesso. Mesmo que lhes reconheça a atenuante de que será tão desordenado, lento e confuso quanto qualquer outra espécie de trâfego em Luanda. Mas como, entretanto, a conexão foi-se mesmo abaixo, receio bem que este post nunca lhes chegue ao conhecimento. O que é uma pena. Até porque me haviam afiançado que estariam sempre comigo.

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

É já amanhã

Inscrições para São Silvestre de Luanda até à véspera da prova. É curioso que, no reino da gasosa, eu ainda não tenha sido contactado para perder esta corrida.

domingo, 28 de dezembro de 2008

Amores,


Não foi Natal porque vocês não estiveram aqui. Fisicamente. Recebi convites de colegas para me juntar a eles, mais às famílias, na ceia e recusei. E acabei por ter dificuldades em justificar-me. Mais por eles e pela insistente cegueira da simpatia e solidariedade do que por mim. Como dizer-lhes que uma família não se substitui? Muito menos no Natal? E, bem pior, que preferi trocá-los pelo Live Messenger? A minha estreia nesta orfandade seria assim concluída numa ceia-buffet de hotel, numa bóia que acabei por partilhar com um outro náufrago igualmente perdido das graças da quadra, a mastigar um insosso bacalhau angolano da Noruega, a ruminar sobre a estranha técnica, certamente indiana ou chinesa, de fazer com que um bolo-rei saiba a pão-ralado e a ansiar, inutilmente, que o tinto do Douro conseguisse o milagre de apaziguar sabores tão falsos e a devolver-me a memória dos meus gostos. Mas, na verdade, juro-vos que nunca saí do canto de cá da longa mesa de quase 6.000 quilómetros, com epicentro na nossa sala de jantar, onde permaneci durante toda a noite, em silêncio, imóvel, a cumprir a minha pena de pai desta vez mal-comportado e a olhar sobretudo para vocês, proibido de vos tocar, ou de vos falar, mas não de me sentir próximo de certas memórias. Do vosso perfume natural, agora de jovens cada-vez-mais-mulheres, cujos cheiros por vezes imagino sentir ainda de quando bebés. Dos vossos lindos olhos azuis, estranhamente herdados em linha directa dos vossos avós, que assim decidiram perpetuar-se à nossa mesa e cuja forforescência rivaliza com a das lâmpadas chinesas que polvilham a árvore guardadora dos presentes e das memórias de todos. Da ondulação dos vossos corpos em reboliço no meu colo, que com o tempo subiu do chão para os sofás da sala, as vozes, os cabelos, os braços, as ancas, os joelhos, os pés, a crescerem mais depressa do que a minha capacidade para os segurar. Do que, enfim, acordamos os quatro passar a fazer erguer como tradição nossa, do passeio de véspera pela Santa Catarina, a divertirmo-nos com a azáfama do prendismo-obrigatório, do de antes da ceia pelo vento fresco da marginal, embalados na noção de que o mundo acaba dois passos em nosso redor, ou da fria peregrinação até à Missa-do-Galo, deixando para trás a doçura da ceia a que costumamos voltar, num semi-sacrifício concedido às tais tradições que juramos valer a pena manter. Tenho pena de não ter podido rever convosco, desta vez, alguns dos registos filmados do nosso passado, de não ter participado no nosso concurso de adivinhar quem-é-quem de vocês dentro daquela touca azul-turquesa ou daquele vestido côr-de-rosa que compramos naquela loja durante aquela viagem que fizemos todos juntos aquele sítio, ou de não ter feito parte dos sketches que depois reveremos com gosto nas reuniões seguintes. Tal como lamento não ter assistido agora ao relato dos vossos trilhos de caloiras, seguramente as mais belas, na Universidade e no teatro, mais as outras confidências de que ainda poderei ser depositário, antes da chegada do tempo em que naturalmente tenderão a afunilar-se. Talvez que depois sobrasse ainda tempo para vos falar do que me têm ensinado estas partidas da vida, e de que os sonhos existem para se perseguirem, embora com os pés bem assentes no chão, e de que, suspeito, o futuro ameaça vir a alterar-se mais rapidamente do que o fazia no passado, e de que nem sempre deveremos esperar pela onda óptima mas, antes, surfar a mais próxima, e... Talvez que então acabassem por me interromper, na vossa clarividência de teen-agers, para confirmar que o vosso velhote não terá, afinal, atributos de surfista e que talvez comece a repetir o que outros antes dele já afiançavam, numa renovação de testemunhos, temores, anseios e desejos de que o Natal será, também, feito. Gosto de acreditar que esta nossa separação, fortuita e involuntária, apenas antecipará outras que, certamente, haveremos de fazer no futuro, cada vez mais longínquas e demoradas mas, espero também, jamais definitivas. Tal como acredito que, embora por caminhos diferentes, serão sempre feitas pelos mesmos passos.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Nasce uma estrela?

Desde há cerca de duas semanas que me encontro inscrito na S. Silvestre de Luanda. Tanto quanto me apercebo, até aí ninguém se havia queixado do percurso mas, agora, certamente que depois de alguém ter difundido a minha participação na competição, já há quem considere haver necessidade de mudar o piso em várias artérias por onde a corrida irá passar. Ora venham lá convencer-me de que não haverá aqui mão de algum meu adversário repentinamente mais nervoso. Pois isto cheira-me a golpe de secretaria. Veja-se lá que até já estão a implicar com o ferro-velho dos carros abandonados nas bermas das ruas. Tornar o espaço mais fluido, dizem eles. Como se eu não percebesse que o que querem, verdadeiramente, é deixar o caminho livre para me obstarem a passagem com algum camião TIR e assim impedirem-me de chegar à vitória. Receio, medo, pavor mesmo, é o que revelam ter os meus adversários, nesta minha primeira participação em Luanda. Que será, por sinal, a minha primeira S. Silvestre. A bem dizer, também, a primeira prova de atletismo em que alguma vez entrei.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Natal de restos

Parte das famílias angolanas vive de restos. À custa do Natal e do espírito natalício, exclusivo prisioneiro desta quadra e aparentemente intranferível para outra época do ano ou da vida, há muita xaropada moral que se vai vertendo nesta época. Não irei cair nessa armadilha a propósito desta notícia. Desde logo, por não ser propriamente uma novidade para quem se habituou a vê-la cirandar por aqui. Mas não deixa de causar arrepios a permissividade que o surpreendente indicador «nível médio de pobreza» antecipa. Tal como o facto de se conseguir medi-lo. Haverá, mesmo, realidades bem mais fortes que qualquer ficção.


Desejo, a todos os que aqui costumam ler-me, um Feliz Natal.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Gasoso espírito natalício

Ainda sou do tempo em que o adorável estafeta que entregava as prendas que eu recebia no Natal, cumprindo o trajecto da chaminé até ao sapato colocado em cima do fogão da cozinha, se chamava Menino Jesus. De que me recordo sobretudo pelo facto de não saber português e por isso nunca conseguir acertar com os pedidos que lhe escrevia. Anos mais tarde passaria a chamar-se Pai Natal, numa mudança de nome a que nunca aderi ou concordei por sempre ter desconfiado que visou sobretudo acabar com as minhas ilusões de um dia acertar com os pedidos. Tive a certeza disso quando me sugeriram que as renas que lhe puxavam o trenó se recusavam, afinal, a cortar as hastes para poderem entrar na chaminé lá de casa. Já adulto e agora a ver no barrigudo benfiquista de barbas um perigoso fomentador do consumismo infantil, capaz de transformar pacíficos chefes de família em tesoureiros compulsivos, passei a olhá-lo como uma espécie a merecer extinção. E a imaginar que, mais tarde ou mais cedo, poderia bem ser substituído por qualquer coisa parecida com a DHL. Agora, afinal, aqui, descobri que foi substituído pelo Paizinho. E que o Paizinho sou eu! Extraordinariamente eleito durante as duas últimas semanas, através de um concentracionário sufrágio de arrumadores, seguranças, polícias, engraxadores, vendedores, empregados de mesa, paquetes, indistintos passantes anónimos e outros tantos inconfessados profissionais da gasosa, todos repentinamente imbuídos de espírito natalício. Tenho agora uma multidão que me deseja, de mão estendida e voz melosa, «Boas festas, Paizinho», ficando eu sem me lembrar onde pus a lista das prendas desta gente toda, crianças grandes num mundo sem chaminés, nem fogões debaixo, nem sapatos em cima. E, desgraçadamente para eles, também sem um Paizinho generoso e sorridente a arrastar um saco vermelho cheio de kwanzas. Safa!

domingo, 21 de dezembro de 2008

Trânsito proibido

Em Angola todos os caminhos vão dar a Eduardo dos Santos. Consta que será uma verdade muito jornalística o que refere o português Jornal de Negócios. Mesmo que esta constatação de GPS há muito tivesse sido já feita pela bem menos tecnológica mas mais certeira lupa de Pepetela. Com a vantagem da sua ascendência, dada a proximidade e reconhecimento cardados nas lutas ainda no mato, perante a certamente maioria dos integrantes da actual guarda pretoriana do regime. Leia-se «Predadores» e perceba-se porque é que este livro deveria fazer parte, ao lado do boletim de vacinas e dos repelentes de mosquitos, do kit de viagem de qualquer expatriado com destino marcado para Angola. Talvez que depois se passásse a perceber melhor por que razão, pese as evidências do sentido do trâfego, aqueles caminhos continuarão a estar minados.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Faça-se luz

Já lá vai o tempo em que, quase sempre, os grandes empresários eram velhos, barrigudos, vestiam fraques coçados, usavam cartola, fumavam grandes charutos por debaixo dos bigodes espigados e divertiam-se a fazer no ar desenhos de cifrões com o fumo. Agora, os tempos são outros. Daí que uma jovem de 35 anos, licenciada em engenharia electrotécnica, reconhecidamente pouco dada a fumaças e, a avaliar pelas fotos, elegante, seja a mais importante empresária do mundo lusófono. É preciso ter galo. Ou, simplesmente, ter o pai a mandar na capoeira.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Pedagogia avaliada

Inquérito: Quase 75% dos professores mudava de profissão. Já suspeitava disto. Depois de os ver, através da RTP Internacional, em tantas manifestações, concentrações e greves. Vai-se a ver e, se calhar, 75% deles até prefeririam ser manifestantes. Ou grevistas. Ou outra coisa qualquer, desde que não fossem sujeitos a avaliações. Entretanto, deste lado do mundo, onde a grande frustração das pessoas, professores incluídos, não será propriamente o cansaço da própria profissão, existe o objectivo de se atingir um milhão de alfabetizados em 2009. Com este tipo de realidade, Angola seria certamente o local ideal para que a Plataforma Sindical dos Professores de Portugal exportasse o seu discurso. A existir, o pedagógico. Não o outro, o do coordenador sindical. O qual, pelos vistos, já serviu para desincentivar o que se julgava ser vocação.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Pink Floyd - Wish You Were Here

No meu dia preferido, a minha música favorita.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Em Roma... sê romano?

Sábado de algumas horas de praia em Cabo Ledo, como têm sido os últimos, o calor adocicantemente húmido da habitual estufa angolana, as cócegas da areia fina que finalmente se substitui às peúgas na massagem dos pés, o livro aberto sobre uma sopa de letras que por uma vez não mete números, gráficos ou uma síntese dos dois, os óculos a proteger o olhar da fulminante luminosidade dos personagens que Pepetela desfia, os mergulhos seguidos naquele mar cuja temperatura parece ter saído do mesmo sonho, tudo neste asfixiante reconforto dos fins de semana de Angola sem trabalho eight-to-eight. Certamente vindos de um dos bungalows ali existentes, em fatos de banho e toalhas a tiracolo, um casal entra na areia quente a caminho da maré. Ele é branco, ela é negra, ele bem mais velho que ela, diferença a parecer de vinte anos, certamente a idade dela, que lhe agarra a mão esquerda, onde ele transporta também uma máquina fotográfica, enquanto ele vai mantendo a direita ocupada por um cigarro nervoso. Ao passarem perto de mim, pareceu-me reconhecer, mais no vigilante e incomodado olhar dele do que no sorriso abstraído de menina dela, o enredo de muitas histórias que se contam por aqui. Chegados à maré, os inevitáveis shots seguidos disparados pela máquina digital dele sobre ela, a encher o olho daquele momento e posições para a posteridade e para o que mais for. Daí a algumas horas talvez que a foto dela já circulásse pela internet de amigos e conhecidos dele, como mais um troféu ganho com uma promessa de um fim-de-semana de revista. Vi há já muito tempo na TV um filme, que creio dos seventies, chamado «The lord of the land», cujo argumento girava em torno de um costume europeu da Idade Média conhecido por «droit de seigner», o que se traduziria por «direito à primeira noite». Na prática, um privilégio dos senhores feudais em disporem das noivas dos vassalos na noite do casamento. O que tenho depositado na memória deste filme é o drama da hesitação de um suserano, até aí apostado em acabar com esse costume, que se vê enamorado de uma aldeã durante uma visita a uma pequena povoação situada num território recentemente conquistado a um rival. Ele próprio casado, passa a debater-se com a atração pela exigência dos costumes locais mal descobre que a jovem está noiva. A mensagem do filme era afinal dada pelo noivo aldeão, que apelava à consciência do seu senhor perante os costumes da própria terra donde vinha, recordando-lhe que aquele acto seria lá considerado crime. Pois por diversas vezes me tenho lembrado deste enredo por aqui. O que está vedado nuns lados poderá muito bem ser permitido, quando não incentivado, noutros. E não me refiro aos crimes, decididamente não locais, de deitar lixo para o chão, fumar em restaurantes, ou urinar directamente para a Baía.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Quilmes é o nome

Após um recente post aqui, alguns comentaristas demonstraram estranheza por eu ter confessado ter estado na companhia de umas argentinas de que não sabia o nome. «Descarada falta de cavalheirismo», terão pensado uns. «Marialvismo tuga já com reminiscências de Angola», terão pensado outros. «Espera-o o rolo da massa», certamente todos. Pois bem, decidi assumi-las. Para que não se pense que ando por aqui a beber pela calada. Eis uma delas espraiada na foto. Só não sei se a última ou se a próxima.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Speakers corner

O oficial Jornal de Angola Online alberga no seu site um estranho espaço a que chama Discursos dos Presidentes. Os dois únicos que teve em trinta anos de independência, Agostinho Neto e Eduardo dos Santos. Ouvidos os primeiros discursos do último, à distância do futuro que é hoje, parecem proferidos de uma espécie de speakers corner, onde os espectadores tendem a parar apenas na ânsia de ouvir algumas excentricidades. E este presidencial cantinho não deixará, certamente, ninguém defraudado. A sorte dos angolanos é que estes discursos-exemplos de desdentada arqueologia ideológica são, apesar de tudo, curtos. Fossem do impedernido camarada presidente cubano e haveria que acrescentar ao site alguns hard drive extra.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Conversas de homens

Faleceu este fim-de-semana, com 81 anos, o escritor português António Alçada Baptista. Devo tê-lo lido, seguramente, em não mais do que vinte páginas. Embora tivesse gravado o título do único livro dele que folheei. «Peregrinação Interior - Reflexões sobre Deus". Ainda hoje, se tivesse de responder a um inquérito de rua, considerá-lo-ia o mais chato de tudo o que já li. Incluindo compêndios técnicos e relatórios de trabalho. Curiosamente, no entanto, decorei-lhe uma frase de uma entrevista que deu a um jornal, julgo que no início dos anos oitenta. «Nunca tive uma conversa de homens». Depois passava a filosofar sobre isto, partindo da experiência de vida de amigas suas, que muito embora considerásse inteligentes, não percebia porque se deixavam tratar mal pelos companheiros e não se separavam deles. Lembro-me de não ter percebido o que é que o cú tinha a ver com as calças. Se calhar, a resposta estaria nas restantes seiscentas e tal páginas do livro de que apenas li menos de vinte.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Hoje há conquilhas, amanhã...

Um dos hábitos em Luanda, de que primeiro se estranha e depois se entranha, é o de nunca se saber qual a marca do próximo after-shave, sabonete, pasta-de-dentes, papel higiénico, leite ou cerveja que iremos comprar no supermercado. Sequer se haverá para a semana peras, bananas, laranjas ou maçãs, starking, fuji, golden, reineta, red delicious ou local. Depois do primeiro trimestre a beber Schweppes e do segundo uma marca com um nome polaco, os últimos tempos trouxeram a novidade de não se beber simplesmente águia tónica por falta de comparência de qualquer marca. O mesmo para os yogurtes, que tanto podem trazer aromas, sabores ou pedaços de fruta como não trazer coisa nenhuma, incluindo a embalagem. Meia dúzia de anos depois do final da guerra civil angolana, o racionamento continua válido. Como já desconfiava, as razões são estas. A Alfândega de Luanda passa por ser a mais desorganizada do mundo. 150 mil contentores, correspondente a dois meses de descargas, permanecem estacionados no interior do porto, para desespero de distribuidores famintos de cifrões e consumidores ansiosos por despachar kwanzas. Daí que me encontre há uma semana a penar na companhia de umas argentinas de que nunca decorarei o nome, dada a ausência das bem mais reconhecíveis e apetecíveis cervejas da Cuca. Pena e nostalgia muito mais pesadas quando se está de perna alçada na esplanada de um dos muitos restaurantes da ilha com vista para a entrada do porto, permanentemente engarrafado de navios prenhes de tudo, a imaginar um porão inundado de loiras descaradamente borbulhentas e húmidas de frescas.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

O nosso 1º afinal é 6º

Não acredito nisto. Então um gajo que é mais velho do que eu, não será concerteza mais dinâmico e seguro do que sou, eu que já não fumo, no avião ou noutro sítio qualquer, que não tenho torcicolos e por isso até não me importo de dar o braço a torcer, que, a acreditar nas amostras da meia-maratoan de Lisboa na TV, fico bem mais elegante a correr para as camaras e vêm agora dizer-me que ficou à minha frente como o sexto homem mais elegante de 2008? Estes políticos! Pudera eu substituir os meus Massimo Dutti pelos Armani dele e não haveria demagogia que o safasse.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Vitorino | Queda do Império

Estranhamente, neste meu cosmopolitismo angolano, tem-me dado mais para ouvir música portuguesa durante os joggings matinais. Após recente fuga a Portugal, reforcei o alforje da sonoridade tuga com o grande Vitorino, certamente o mais barato músico português de sempre. O triplo «Tudo» custou-me na FNAC 9,95 euros, menos de vinte cêntimos por cada uma das cinquenta canções. Realidade pobretana quando comparada com o pimbalhão Tony Carreira, que acabo de ouvir no Telejornal da RTP Internacional ter ganho um disco de platina em apenas três dias. Os tugas preferirão «O homem que sou» à «Menina estás à janela», o que me tem deixado preocupado com o regresso. Por mim, creio que nunca alinharia num jogging na marginal com o Tony a miar-me nas orelhas. Para esgoto já bastarão os da baía de Luanda. E até acho que a bóina do Vitorino tem bem mais pinta que o manjerico do Carreira.