domingo, 30 de março de 2008

O Código das 3 regras

Sempre que me vejo internado neste manicómio que é o trâfego de Luanda lembro-me do meu exame do código da estrada, que preenchi com cruzinhas. Agora, por aqui, não raras vezes cruzo as mãos antecipando uma qualquer colisão, para lá de me interrogar sobre essa coisa das cartas de condução, por aqui tão old fashion quanto os telegramas na era dos SMS. Prioridade a quem vem da direita? Passadeiras para peões? Sentido único? Estacionamento proibido em segunda fila? E em terceira? Nos passeios? Circular pela faixa da direita? Ultrapassar em segurança? Ligar os piscas? Sinalizar seja lá o que fôr? Desconfio que o João Catatau, autor do Código da Estrada do meu tempo, seria atropelado logo na primeira rua à saída do aeroporto de Luanda. Pois por estes lados há uma espécie de versão sintética do best seller dos pré-encartados, ou seja, as regras de trânsito são apenas três, por isso mesmo também conhecidas por prioridades absolutas. 1ª Os taxis de Luanda, cujo cognome, candongueiros, já deveria dizer tudo e que são conduzidos por esgazeados aceleras que em vez de espelhos levam fotos de mulatas nuas nos retrovisores e que resolvem qualquer dúvida sobre prioridades com uma catana na mão. 2ª Os carros da Polícia, cuja pressa em chegarem à vizinhança de locais pródigos nos sectores da restauração e bebidas os leva a ligarem os pirilampos de luz & som como se fosse um ensaio de DJ’s nas vésperas de uma rave party. 3ª Os Volvos azuis escuros, conhecidos por serem exclusivos dos membros do governo, certamente que num derradeiro esforço da actual geração de políticos angolanos para se aproximarem do ideal sueco do Estado Providência. Neste fim-de-semana, congelado no trâfego que tentava fugir da incandescente Luanda, vi um Volvo azul escuro galgar o separador central para a outra faixa, colar-se ao tejadilho um colorido ti-no-ni e arrancar dali a toda a velocidade em contra-mão. Quem ia ao meu lado, incrédulo com o meu espanto, assegurou-me que quem correria sérios riscos seria quem se atrevesse a confrontar aquele xô ministro com uma qualquer quarta regra.

2 comentários:

F. disse...

Caro, hoje estava a escrever justamente sobre esse comportamento das autoridades e acabei, sem querer, no seu blog. Vou plantar um link no meu sítio, se não se incomoda. Um abraço,

Menina de Angola disse...

você esquece de mencionar as motos que andam pelas calçadas a todo vapor como se fosse ali sua via de passagem..rs