Consta que terá sido por culpa dele que não consegui arranjar lugar em executiva e tive de me conformar em viajar em económica, numa benesse tão repentinamente anunciada quão lentamente custosa me foi a engolir. Basta lembrar-me dos saltos em altura que tive de fazer sobre a vizinhança da coxia em coma de sono durante todo o percurso de oito horas. Afinal, até que o homem tomou finalmente uma decisão acertada. Daí que eu já me tenha esquecido de que não me serviram o habitual champanhe à entrada, que passa perfeitamente por Möet & Chandon quando sei que é Gancia, não me trocaram os sapatos pelas super peúgas com que galhardamente costumo enfrentar os glaciares da altitude, não me perguntaram pelos alternativos dois pratos de carne ou de peixe, da autoria daqueles cozinheiros especialmente escolhidos pela TAP para tratarem das vertigens gastronómicas dos seus passageiros frequentes, não me ligaram à exibição da edição não-sei-quantas do Senhor dos Aneis, em que um chimpanzé animado insiste em morrer escalfado por causa de uma aliança e já nem sequer me lembro de ter perdido o conforto do banco rapidamente transformado em cama por efeitos da reclinada magia do Monte Velho tinto. Não. O acerto na decisão de enviar 200 professores para Angola em 2009 merece que eu esqueça o que afinal perdi por causa da coincidência de termos regressado no mesmo avião. Até porque, ao que consta, para se evitarem os seus mui temidos tremores no avião, se viajou a mais de 2 mil metros da altitude normal dos vôos de rotas comerciais comuns. As dos que não levam primeiro-ministros a bordo, já se vê. Gaste-se lá, pois, uns bidons de gasóleo a mais do que será costume e mande-se uma carta a pedir desculpas pelo abuso ao ozono, que Sócrates merece, por uma vez, a falta de sobressaltos. Porreiro, pá!
terça-feira, 22 de julho de 2008
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2 comentários:
Robert, por sorte conseguistes viajar. Muitos tiveram de ficar para dar lugar aos porreiros!
abs
A.
Lamento que tenha ficado em terra. Se não, quem sabe, teríamos visto juntos o sorteio das fotos de Sócrates a publicar nos jornais do dia seguinte. Muito instrutivos estes võos...
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