A melhor imagem sobre o tipo de colonização que os portugueses fizeram em África foi-me dada, há já algum tempo atrás, por esta anedota. Um português e um inglês foram pescar na margem de um grande rio e, para os ajudar, levaram um criado africano. Durante quase todo o tempo que durou a pesca, o criado africano teve ocasião de mostrar toda a sua inabilidade para o acto. Desde os iscos que caíam dos anzóis ainda antes da linha atirada pelas canas de pesca chegarem à água, aos cortes na linha e às perdas dos anzóis pela falta de jeito em retirá-los da boca dos peixes, até à perda dos próprios peixes que escapavam ao cesto e deslizavam para o rio quando eram agarrados pelo rabo. O português, crescentemente irritado por tamanha inabilidade, descarregava a sua fúria através de um chorrilho de insultos básicos. «Malandro», «incompetente», «calaceiro», «miserável», etc. Tudo intermediado pelo conclusivo «preto». Durante este mesmo tempo, o inglês manteve-se perfeitamente mudo e impassível, aparentando ignorar a presença do criado. De repente, as águas revoltas do rio galgaram a margem e levaram o africano. Pergunta: qual dos dois pescadores se lançou de imediato à água para o salvar?
quinta-feira, 7 de agosto de 2008
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5 comentários:
Anedota sem fim é crueldade. Vamos lá: acho que o Tuga se lançou às águas. Como poderia ele viver sem o serviçal para ofender?
Abs.,
Diário da África
Está visto que foi o português, olha que pergunta!
Mesmo sem esse seu repto final, eu iria sempre comentar que todo esse comportamento do nosso compatriota podia ser autêntico (embora, cá para mim, fosse pessoa excessivamente pouco comedida), mas que a história da colonização está aí, à vista de todos, como prova irrefutável...
Os ingleses, sempre donos de muito fairplay mas sem jamais se misturar, sendo portanto capazes do verdadeiro desprezo (veja-se onde nasceu o apartheid...);
Os portugueses, que deram 'novos mundos ao mundo', apropriando-se de tudo mas retribuindo, em contrapartida, na mesma moeda.
Acho que nenhum outro povo se miscigenou como nós.
E se quisermos sair de África, há cenários que se desenrolaram com os 2 povos contracenando lado a lado, que se prestam a uma cristalina análise comparada: - os casos da Índia (Goa, Damão e Diu, vs. Bombaim, Delhi, etc) e da China (Macau e Hong Kong).
Claro: - para não ser excepção, também gerimos tudo muito pior, e não soubemos administrar - com benefício de ambas as partes! -, os laços que ficaram pelos tais '4 cantos' fora.
Coisa que os britânicos fizeram como ninguém...
Nós largámos tudo de maneira "exemplar" (que tristeza!) e mesmo assim ainda conseguimos encontrar por aí povos aparentados pela diáspora que nos tratam, sem ressentimentos, como pais ou irmãos, a troco de nada termos feito para merecer essa cortesia...
Veja-se Malaca, veja-se Timor.
Creio que não é bem o caso de Angola... mas seguramente é o caso de Moçambique (ao que sei).
DdA,
(Consta que) acertou, embora não pelas razões que apontou...
Laura,
Agradeço ter-me poupado a mais explicações...
há tempos um Francês falando sobre o povo colonizador que fomos, dizia-me que somos uma contradição.
Temos, segundo ele e "malgré tout, un coeur si doux".
Gostei de ler a si, mas ainda mais a Laura :-))
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