sexta-feira, 20 de junho de 2008

Etnomachismo

O etnocentrismo é tramado. De repente, a firme e hirta pirâmide de valores que costumamos mirar como a uma vaca sagrada dá uma volta de 180 graus e fica suspensa pelo cone. O que jurávamos ser sopé ameaça agora transformar-se em cume. À mesa de um restaurante, um angolano maduro, com formação superior e que facilmente poderia ser englobado na chamada elite deste país, decide atacar a irracional fidelidade europeia à monogamia. Presas fáceis, aos dois solitários tugas presentes na mesa nada mais resta de que unirem-se na cumplicidade do sorriso. Entretanto, o outro comensal não pára de degustar o seu menú de argumentos, centrando-se no prato daqueles pobres exemplares de uma cultura repressiva que limita o potencial sexual do homem porque o escraviza a uma só fidelidade. Indecisos entre o assumir da vergonhosa conduta histórica e a atenção à requentada pedagogia do conviva angolano, nenhum de nós se atreveu a interrogá-lo sobre a receita para o eventual potencial sexual da mulher angolana. Fiel ao que diz ser a cultura local, o nosso interlocutor passa a gastar a sua energia em exemplos de homens poderosos, generais, que chegam a coleccionar quatro e cinco mulheres extra e, como convirá para o receituário do rejuvenescimento, todas elas mais novas pois que para ressonar já bastará a legítima. Não querendo pôr em causa a bravura destes homens ilustres, concentrei todas as minhas forças em contar uma história que ouvi recentemente a alguém, sobre um jardineiro que foi preso depois de se saber que se habituara a tratar em segredo o negligenciado potencial sexual da legítima de um general. Remédio santo, depois deste exemplo, passamos todos a falar de sobremesas.

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