sexta-feira, 20 de junho de 2008

Grau zero do turismo

País com condições espantosas para o turismo, pelo clima ameno durante todo o ano, pelas praias treze vezes maiores do que as nossas, pela natureza viva e pelo surpreendente da mistura de paisagens diversas num só olhar, Angola está, no entanto, no grau zero do turismo. Poucos hoteis, por falta das licenças protectoras dos actuais industriais e diversos outros condicionamentos, incluindo certificações de qualidade, escolas de hotelaria, livros de reclamações, pessoal habilitado, instalações, elevadores, lençóis, água, sabonetes, toalhas, lâmpadas. Uma estadia de dois dias num hotel do Lobito deu para certificar isto mesmo. Desde logo, uma restauração corrida a 70 kwanzas o dólar, quando o oficial se tem alimentado nos 75 e, nos quartos, mesas de cabeceira com candeeiros que não podem ser ligados por ausência de tomadas próximas, modernos plasmas a parecerem-se com aquários de mosquitos e genericamente quartos grandes cheios de sofás, mesas e restantes adereços a conviverem com raquíticos espaços para WC's. Aqui, o lavatório à altura dos joelhos, a tampa de plástico maior do que o tamanho do ralo, o assento mais pequeno do que a base da sanita, ou o rolo do papel higiénico colocado na parede a dez centrímetros do chão. Salva-se a aventura do duche, tomado num poliban de canto, com dois biombos de alumínio e acrílico preparados para deixar verter a água do banho dos clientes com mais de um metro e setenta de altura, com a enorme misturadora da água á altura do queixo, mais a bisnaga do chuveiro poucos centrímetros mais acima e o colete de forças de estar de sentinela numa base de 40 por 40 cm, que proíbe a ginástica ritmica de passar o sabonete pelo corpo e obriga a desertar dos biombos para ensaboar lá fora e só regressar para o banho. No final, a água quente que pareceu ter enferrujado a abertura das portas acrílicas que fechavam o duche e que fizeram pensar, durante cinco eternos minutos, no ridículo de ficar-se prisioneiro de um poliban do Lobito. Salvam-se os vestígios da paradisíaca invenção portuguesa que foi a Restinga, ali tão perto.

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