Só por causa desta entrevista, em que terá divulgado o que o País que conheço há muito pensa, Marinho Pinto já mereceria ser reconduzido como bastonário da Ordem dos Advogados portugueses. Entretanto, aguarda-se a sua próxima visita a uma nova loja de porcelana.
domingo, 31 de maio de 2009
quarta-feira, 27 de maio de 2009
Sombras de Luanda
A menos de duzentos metros do restaurante do Deana SPA, cujo nome, «Complexo Gastronómico Bay Side», já merecerá uma estrela no Guia Michelin, há um homem sepultado na sombra de uma árvore. Aparenta ter pouco mais de vinte anos e encontra-se mutilado na perna direita que lhe desaparece logo após a curva do joelho e acaba num toco mal cicatrizado e ainda com vestígios do osso e, também, nos braços picados por diversos golpes, irregulares, nítidos, mas espantosamente secos de sangue, cuja profundidade lhe consome a carne até ao limite de doer a quem a vê. Jaz ali os dias e, quiçá, as noites quase sempre deitado, arrastando-se no sentido da sombra da velha acácia quando ela acede em fazer-lhe companhia e rebolando sobre si mesmo na busca do biombo do tronco quando necessita de maior intimidade. Por todo aquele corpo perdido no empedrado do passeio esburacado da marginal e que parece repousar de uma batalha de que apenas se conhece os despojos, há crostas de uma urgente, embora muda, piedade que o cobrem da cabeça ao pé. Não se lhe percebe o que responde quando questionado, mantendo-se absorto nos mesmos gestos, na dor, na insanidade, ou tudo junto, antes parecendo mover-se num permanente estado de delírio, a remexer nas partes do corpo que lhe faltam ou a revirar a cabeça no sentido dos céus, quantas vezes rindo ou repetindo uma lenga-lenga imperceptível. A primeira vez que o vi, a meio de um jogging de fim-de-semana, lambia freneticamente com o indicador direito o que restaria de uma pequena embalagem de manteiga como as dos aperitivos dos restaurantes e, perante a garrafa de água fresca que lhe serviram, pareceu afogar-se na sofreguidão do longo gole, compulsivamente gesticulado como se ressuscitasse num solo de trompete. Interrogo-me se, do seu palco, conseguirá perceber a audiência que não pode deixar de o ver por ali, eu, os milhares de outras pessoas que lhe passam defronte, a pé ou de carro, os assistentes sociais que desconheço se Luanda possui, o pessoal das inúmeras ONG cujos nomes vejo profusamente pintados nos jipes, os pastores das imensas igrejas que por aqui florescem, os cidadãos cuja sensibilidade não se fica apenas pelas ofensas com quaisquer críticas a Angola, os políticos e governantes que se habituaram a jurar fidelidade aos seus. Receio bem que, tal como Simão Kapiangala, o homem-sombra seja apenas mais um entre os milhares de bastardos que deambulam por Luanda, completamente entregues ao Deus-dará. Com o senão de, neste cantinho do paraíso, Deus raramente dar alguma coisa aos que não farão parte do seu rebanho.
domingo, 24 de maio de 2009
Luzes de Luanda

Acelerar na recessão
Há quem defenda que, em época de recessão, se deve estimular a economia com medidas expansionistas, do tipo baixar as taxas de juro ou os impostos, a fim de se fomentar o investimento e relançar o produto no médio prazo. Haverá outros, no entanto, que consideram este tipo de medidas anacrónicas e de excessivo academismo e que, pelo contrário, defendem decisões que possibilitem um choque térmico imediato. Soube-se hoje de um exemplo da contribuição angolana para este debate.
sexta-feira, 22 de maio de 2009
A variante angolana
Um dos estudos pretensamente mais estimulantes nas escolas de gestão por esse mundo fora é o das variáveis que farão parte da «função empresarial», entendida, grosso modo, como as habilitações, mais ou menos inatas, que permitirão que um determinado indivíduo seja bem sucedido nos negócios. Habitualmente, nestas discussões, há um chorrilho de candidatas que saltam logo para a passerelle dos anfiteatros teóricos. Perspicácia, intuição, talento, criatividade, informação, formação, conhecimento, prático e teórico, especialização, racionalidade, know-how, know-what, dinamismo, proactividade, mentalidade, motivação, liberdade, competitividade, etc., etc. Curiosamente, tenho cada vez mais a percepção que, em Angola, nenhuma destas variáveis será, verdadeiramente, importante. Melhor ainda, que todas juntas não suplantarão a, solitária, variante angolana. Leia-se, a propósito, esta já velha sebenta.
«Luanda precisa de murro na mesa»
Entrevista interessante esta do deputado-jornalista, ou jornalista-deputado?, João de Melo ao semanário «O País». Só discordo da quantidade dos murros. Talvez não fosse má ideia distribuir, também, uns quantos upercuts por debaixo da mesa.
quinta-feira, 21 de maio de 2009
Guerra de zeros

quarta-feira, 20 de maio de 2009
terça-feira, 19 de maio de 2009
Investimentos rasca
Angola quer fábricas portuguesas de materiais de construção. Há uns meses, quando alguém por aqui sentenciou que a descida drástica dos preços do petróleo poderia ser benéfica para Angola, era disto que se tratava. Após o rebentar da toalha almofadada de dólares onde os governantes angolanos se estiravam enquanto decidiam o futuro airoso do país, é agora tempo de rebobinar a cassete do crescimento contínuo e sustentado e, em definitivo, assumir que o oásis poderá secar. E que, se calhar, será também tempo deste país tentar parar de importar tudo o que necessita e esforçar-se por produzir internamente o que consome. Depois desta evidência, haverá que limar outras. Como a de divulgar às famintas empresas internacionais que cá querem entrar, tugas incluídos, quais as condições para a recepção dos tão necessários investimentos. Tem de ser em joint-ventures com os locais? Mas afinal eles percebem do negócio? E como fica a distribuição do capital? Os locais terão sempre a maioria? E entram para realizar capital? Ai só entram com terrenos, licenças de construção e contratos de fornecimentos futuros? Eh pá, se calhar teremos de analisar isso melhor, porra! Restará, então, saber, se estes tugas dos materias de construção estarão tão à rasquinha para encontrar novos mercados como, aparentemente, terá estado a TV Cabo.
segunda-feira, 18 de maio de 2009
Em busca dos posts perdidos
Nos últimos tempos este blogue tem andado aos caídos. Ao que deveria acrescentar, para mal dos meus pecados, literalmente, porque, durante todo este tempo, tenho vindo a acumular bastantes. Após o coma do Asus, tenho sido obrigado a esmolar entre amigos e conhecidos por um acesso, livre, à net. Aventura que tem tanto de penoso quanto se sabe que, por estes lados, qualquer acesso é, quase que por definição, vegetativo. Tenho, então, a comunicar que, não me agradando nada esta figurinha de blogger furtivo, que já troca descansar por descançar, assim continuarei por mais algum tempo. Até que, num muito aguardado avião da TAP, embarque quem me venha resgatar. Permitindo-me, finalmente, outra vez, dar Asus aos posts perdidos.
sexta-feira, 15 de maio de 2009
Diz que é uma espécie de paragem
O CR diz que quer descansar d'O Anónimo. Não acredito. Algo me diz que O Anónimo não o vai deixar em paz. Mais dia menos dia e aparecem aí os dois para darem o maior festival de escrita com carácter da blogosfera portuguesa. Até lá então, meu Caro.
Minas em desfile

segunda-feira, 11 de maio de 2009
domingo, 10 de maio de 2009
Senescências
Acabo de me aperceber da minha senescência ao ter de parar a máquina de lavar-roupa a meio do programa para de lá retirar os calções em cujos bolsos deixei a carta-de-condução. Agora condutor bem mais clean, resta-me esperar que, em compensação, os polícias de trânsito de Luanda esqueçam também a mesada das gasosas que costumam cobrar-me.
Imprensa Nacional
Há liberdade de imprensa em Angola, afirma o porta-voz do SJA. Ora ainda bem. Espero é que isso possa incluir a liberdade dos blogues. Algo me diz, no entanto, que tal como com a outra imprensa, se defenderia também aqui «privilegiar os quadros nacionais». Saia então um Roberto Ivens e entre um Major Kanhangulo. Imediatamente!
sábado, 9 de maio de 2009
Crocodilo Dundee

sexta-feira, 8 de maio de 2009
Hip hip hurrah!!!

Estádios históricos
Governante considera "histórica" edificação dos estádios. Angola ultima a organização do Campeonato Africano das Nações em futebol, a ocorrer em Janeiro de 2010. Num torneio desta envergadura, irá construir, apenas, quatro novos estádios. Muito longe, portanto, da megalomania de outros futebóis. Prova de que, pelo menos neste campo, Angola não necessitará de importar competências.
quinta-feira, 7 de maio de 2009
Comícios & bebícios
Conflito entre militantes do MPLA e UNITA resulta em oito feridos. Não será apenas em Portugal que as convicções de fé político-ideológica saltam para o púlpito das ruas mal os comícios viram bebícios.
quarta-feira, 6 de maio de 2009
Um gigante desmembrado
Eis um testemunho bem mais elucidativo sobre o poder da mente do que o transcrito na literatura dos gurus de supermercado.
domingo, 3 de maio de 2009
Aleluia
Hoje é Dia da Mãe e não tenho como festejar. Porque estou órfão. Tanto de mãe como de pai. Aliás, de mães e de pais, pois tive a sorte de ter dois de cada. A todos, acompanhei-os até ao fim, numa proximidade nem sempre fácil mas que acredito ter sido a suficiente para, também, acreditarem que nunca estiveram sós. Tal como tendo a pensar que, agora, não estou. Por isso, estou órfão, não sou órfão. Também por sentir ter, por vezes, uma esquadra a vigiar-me. No parapeito de uma mesma janela corrida. Não sei muito bem onde.
sábado, 2 de maio de 2009
Flag Man

sexta-feira, 1 de maio de 2009
Dia do trabalhador

Subscrever:
Mensagens (Atom)