Um destes dias, enquanto curava a minha primeira dor de estômago com o zapping de breves surtidas de net no hall do bar do hotel, fui forçado a testemunhar os relatórios telefónicos de um Tuga vendedor de material hospitalar. Absolutamente aos berros, para que todos acompanhássemos os seus imperceptíveis objectivos comerciais, relatava a alguém as peripécias do seu certamente acutilante quotidiano, enquanto sorvia sucessivas Cucas cujas latas fazia desfilar no tampo da mesa como se fizessem parte de um cortejo. O curioso da cena, para além da truculência de mastigar cada cigarro nos intervalos das cervejas, é que se referia em surdina aos seus contactos. «O padrinho de cá», «Os gajos que mandam», «Depositem-me na conta porque vou ter de lhes untar as mãos», isto pontuado de inúmeros «Sabes como é». Num dado momento, quem estava do lado de lá da linha terá referido o nome de alguém. O vendedor atalhou logo, como que escandalizado pela eventual quebra de confessionalidade da conversa. «Não digas nomes, não digas nomes ao telefone, sabe-se lá quem poderá estar à escuta.» Por mim, senti-me reconfortado. Por mais recônditos que sejam os locais por onde andemos, sabem tão bem certos reencontros com a Pátria.
quinta-feira, 22 de novembro de 2007
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