Para lá do circunspecto das notícias sobre as eleições angolanas, que o Ocidente vigia como se estivesse em causa o último suspiro da democracia no mundo, há todo um país que deixou de trabalhar para se banhar nos comícios do último dia da campanha eleitoral. Para atingir o score dos 2 milhões na festa de encerramento do MPLA e assim cilindrar a concorrência, o governo teve de decretar tolerância de ponto. Afinal, por melhor que seja o bebício, não se ganha um comício sem os figurantes do 9 to 5. No dia seguinte, vésperas de eleições e também conhecido por período de reflexão, metade dos luandenses permaneceram em casa. «Incomodados». Que é como se justificam por aqui as faltas ao trabalho por doença. Seja lá ela qual for.
quinta-feira, 4 de setembro de 2008
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5 comentários:
Como é que correu tudo tão atamancadamente, depois dos anúncios sobre o alto nível de eficiência eleitoral?
Bem sei que não vê com bons olhos esta "vigilância"... mas eu diria que não se trata nada de agir um como se estivesse em causa o último suspiro da democracia no mundo, mas sim como estando em questão o primeiro vagido de uma improvável democracia em território africano.
E bem sei, também, que o primeiro erro a evitar é tentar encontrar os sinais de um modelo cultural semelhante ao do "ocidente".
Interrogado sobre se persistiam nas atitudes diárias dos angolanos reflexos anti-colonialistas, Vítor Ramalho dizia agora na Sic Notícias que eles tinham ampliado 14 vezes e meia os defeitos dos portugueses... o que está no mínimo
à altura da pergunta, não deixando de ser uma resposta anti-fantasmas.
Vá lááá... break the news!!!
Tendo a considerar que, mais do que a eminência de um novo membro no clube das democracias vivas, o que se vigia nestas eleições angolanas são os riscos de uma eventual instabilidade. E, mais do que as consequências sobre o dia-a-dia dos angolanos, policiam-se os efeitos daí decorrentes sobre o preço do petróleo, sobre o investimento directo estrangeiro, sobre os outros investimentos todos, sobre o potencial de negócios futuros com um país que fornece o Ocidente, hoje, de petróleo e diamantes e, no futuro, de commodities de toda a espécie e até do meio por cento de todas as reservas de água existentes no planeta. Também, sobre as consequências na via dos expatriados. Há no ar um certo discurso, que creio ser ideológico e portanto dirigido, que é contra a invasão de tantos estrangeiros, que estarão a roubar o emprego aos locais. Consta que as primeiras vítimas serão chinesas. No entanto, nas empresas, o ruído está a aumentar. Há cada vez mais segundas e terceiras linhas de comando que todos os dias acordam com uma maior vocação de chefia...
Bom, obrigada, era assim uma coisa que eu queria ler.
O que cá não passa, porque se fica pela espuma das coisas.
Caça aos intrusos, hem? Prematuro, talvez.
E quanto aos arroubos de liderança, eis algo previsível.
Foram umas boas dicas e tb. um bom...princípio?
:)
poupando palavras e remetendo para o que é gritantemente óbvio, veja aqui:
http://jansenista.blogspot.com/2008/09/hora-eleitoral-em-angola.html#comments
Isto não é bem um comentário, era mais uma nota... nem publique!
Afinal, publiquei. Porque é essencial essa perspectiva, que já ouvi por aqui das bocas de alguns angolanos. Que apregoam cada vez mais uma distinção entre políticos, que me dizem ter nascido no Brasil mas também há muito terá entrado em Portugal, com plena evidência nas últimas autárquicas, reduzindo-os a duas classes. Os que roubam e os que roubam-mas-fazem...
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