De vez em quando, por entre o caldo sufocante da rotina acelerada que é Luanda, irrompe a frescura de uma história surpreendente. Como a contada por aquele taxista, ex-electricista, de cuja cartola biográfica faz sair um personagem que parece ter fugido de um romance de Garcia Marquez. Sem demonstrar qualquer cansaço pela travessia do Atlântico e com a fulminante metralha de uma memória polvilhada de pormenores, conta ele que, durante a guerra civil angolana, teria sido raptado pela UNITA. Cujo intuito seria o de evitar a sua permanente requisição pelo MPLA para remendar os apagões que precediam os ataques dos rebeldes aos postos governamentais. O rapto duraria 15 anos. Mas, aparentemente, não lhe terá criado grande infelicidade, pois chegaria a casar-se com uma das filhas de Sabimbi. Assegura que, no entanto, teria sido capaz de abandonar o séquito do doutor ainda antes de lhe ser declarado o óbito. E enquanto continua a carregar no pedal e a empurrar a manete da caixa de velocidades como quem vai acelerando a memória de um tempo que ficou para trás, dá o testemunho de uma página do livro da História que nunca viria a ser escrita. Como a do atraso da chegada ao Andulo das bombas químicas que a UNITA teria adquirido em desespero na Ucrânia e que, se chegadas a tempo, evitariam que o MPLA vencesse a guerra. «Pelo menos tão cedo», recorda quem sabe. Imagino quantas outras folhas vividas de romances anónimos não andarão a esvoaçar por esta Angola que continua a cheirar a petróleo e diamantes.
sábado, 1 de novembro de 2008
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2 comentários:
"folhas vividas de romances anónimos não andarão a esvoaçar" R.I.
salvas sejam e assim se mantenham ~~ que para desgraça já chegam as que se sabem ;)
«Imagino quantas outras folhas vividas de romances anónimos não andarão a esvoaçar por esta Angola que continua a cheirar a petróleo e diamantes.»
Giro, giro, era recolhê-las.
E escrevêlas.:).....
Sempre me intrigou Savimby. Com o seu ar de espécime atávico, bem autóctone, porém confiável.
Que contraste...
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