
A ideia era comprar uma
capulana para matar saudades a uma tuga que já fora também angolana. De imediato, as duas jovens
quitandeiras largaram, sorridentes, as montanhas embrulhadas de pano que traziam à cabeça e estenderam em leque as peças pelo chão.
Quanto custa cada uma? Dois mil kwanzas? É muito caro! Compramos ainda ontem uma a setecentos e cinquenta, mentimos. Um par de sorrisos, inexpugnáveis na vontade de aumentar o pecúlio da jorna ou, quiçá, apenas no desejo de se desfazerem de mais um peso na cabeça, logo desarmariam o ímpeto regateador dos compradores.
Escolha, senhora, tem aí panos muito bonitos! A mil não, que foi a quanto compramos, mas logo logo se faz um desconto. Uma luta desigual estava prestes a ser travada naquele fim de tarde junto à Baía, quando uma das mulheres, finalmente livre do peso que carregava à cabeça, espreguiçou a gravidez por debaixo do longo vestido amarelo. A partir daí, já não era o marralhar do preço de um simples pano colorido, no banalíssimo propósito de recuperar o desconto da venda como se fora a um local, que passara a ofuscar-nos naquele quente e amorfo fim de tarde, como o são todos em Luanda.
Então, fica mil para si e mil para o bebé. Já não me lembro das cores estampadas na capolana, que permanece dobrada tal como foi entregue, mas recordo bem o colorido dos sorrisos que deixamos para trás.
3 comentários:
Adorei!
Maria Ana
Maria Ana,
Ainda bem. Volte sempre.
Kapulana, assim chamam os moçambicanos. Em Angola a peça de tecido que as senhoras amarram para cobrir a parte inferior do corpo chama-se pano.
Gostei cá ter estado.
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