sexta-feira, 12 de junho de 2009

O provincianismo português

Acabo de ver o «Jornal das 9» na SIC Noticias, que iniciou e demorou 33 minutos a falar da transferência de 80 milhões de libras do futebolista Cristiano Ronaldo do Manchester United para o Real Madrid. 33 minutos. Onde coube a notícia, as repercussões na imprensa de todo o mundo e arredores, nos adeptos, tanto de ambos como de nenhum dos lados, dois repórteres a repetir em directo das portas dos clubes envolvidos quer a notícia da transferência quer as repercussões na imprensa de todo o mundo e arredores e nos adeptos de ambos os lados a quem tentavam caçar na rua os testemunhos cheios de conteúdo técnico, entrevistas gravadas ao «Melhor do Mundo» a repetir vezes sem conta que nunca abandonaria o United sem que entretanto lhe caísse a tinta do lipstick, declarações entusiasmadas de opinadores profissionais do fenómeno desportivo mas também, se lhes pagarem, de quaisquer outros fenómenos mesmo que não-desportivos, reportagens sobre o passado do craque sem que desta vez lhe juntassem, obrigado, imagens da irmã a cantar em discotecas e feiras a célebre canção-poema «Mano», até ao arrolamento, ditado por um pivot perfeitamente babado, das várias namoradas do starlette até agora CR7 mas futuramente CR-outro-número-qualquer, que incluiu um video sacado por um paparazzi de Beverly Hills a uma sua entrada às 3 da manhã, com saída 1 hora depois, na mansão de Paris Hilton. Uaauuu. Quando acabou a peça, o apresentador ainda mantinha a boca aberta. A notícia a seguir, como seria previsível, já foi uma ganda seca. Os depositantes do BPP abandonaram finalmente a vigília junto das instalações do banco que lhes ficou com as economias. Bééé, grande coisa. Lembrei-me do velho Pessoa, a quem o pivot do «Jornal das 9» certamente consideraria gá-gá, que consta não ter feito culturismo para além do cotovelo para cima, não pintava os lábios na côr strawbery, usava sempre um chapéu que não lhe deixava espaço para grandes poupas e, se fosse futebolista, seguramente que não olharia três vezes para o ecran da TV dos estádios antes de marcar os livres directos. Em contrapartida, tinha uma ironia que deixou dele a imagem de um gajo com uma pinta do caraças. Como este texto, já velho de noventa anos.

3 comentários:

Reflexos disse...

atenção que 12 de Junho é dia de aniversário de Robert Ivens

Roberto Ivens disse...

Reflexos,

Obrigado pela lembrança! Também este escriba vai acusando o peso da idade...

Anónimo disse...

Parabéns e longa vida ao dono do blog e ao blog!

Maria