segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Natal angolano

Desconheço como será o ambiente do Natal em Luanda e espero nunca ter de o conhecer. Será sinal de que conseguirei preservar a ponte, entre outras coisas pavimentada pela obrigação de renovação de vistos, com a minha memória natalícia, ela própria uma metrópole de signos que não tem admitido, até agora, uma qualquer outra realidade ultramarina. Há uns dias atrás fui surpreendido com a informação de que os angolanos festejam o Natal com o mesmo bacalhau-com-batatas-e-couves que se coze nesta época em Portugal. O que considero espantoso. Haver um país, que não o nosso, que assuma assim a herança do culto de um peixe pescado num mar que nem sequer o banha e que se disponha fielmente a consumi-lo no banho-maria dos mais de 40 graus centígrados de uma das suas noites de Dezembro. Desconheço, do alto dos meus míseros dois meses de Angola, se haverá por aqui um maior sinal do tributo local à cultura portuguesa. O que tenho a certeza é que, se alguma vez tiver o azar de por aqui ficar no Natal, também eu irei degustar deste mesmo bacalhau cozido com batatas e couves. Mesmo se estas provirem da Namíbia ou do Botswana.

2 comentários:

C.M. disse...

São as raízes que deixámos em terras que seriam hoje um paraíso para todos, brancos e negros, se não fossem os ventos da História e uns quantos rapazes impacientes...

Roberto Ivens disse...

Cabral-Mendes,

Não arrisco o «paraíso», mas que o ensino, designadamente o da língua portuguesa, é por aqui um trunfo muito mal utilizado, lá isso é...