Dizia-se à boca cheia em alguns cantos que muita coisa iria mudar depois das eleições. Designadamente que seria o fim da mobilidade dos candongueiros no centro de Luanda, que o governo fixaria o dolar a valer bem menos que 70 kwanzas, que diversos musseques desapareceriam do mapa de um dia para o outro, que centenas de milhares das pessoas que deambulam na capital acordariam um dia bem no interior do país e que seria enfim liberalizado o mercado dos licenciamentos, desde a construção de hoteis e shoppings até à exploração mineira. Mais importante que tudo, passaria a privilegiar-se os investimentos na agricultura, facto extraordinário num país que tem tanto de deficitário de produtos e know-how nos sectores da produção alimentar quanto de superavitário em terrenos férteis não cultivados e na propaganda a slogans do tipo «em solo angolano estrangeiro não mexe» com que as autoridades vêm preferindo manter o capim a saciar a fome de tantos. Mas, afinal, o primeiro acto simbólico da anunciada mudança acabou por ser a compra de 49,9% do Banco de Fomento de Angola, líder do mercado e filial do português BPI. Nova postura do regime? Nah, trata-se da mesma velha postura parasitária de sempre. A de sugar o tutano dos investimentos rentáveis e cruciais no desenvolvimento da economia angolana e sem que os accionistas locais acrescentem verdadeiramente alguma coisa, para lá da velada ameaça da Sonangol em retirar depósitos e secar tesourarias aos renegados. Sobra então a velha e relha máxima de que não é Angola quem precisa do mundo mas, sim, este daquela.
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
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2 comentários:
sem as sombras esse ovo não seria um ovo,
o telhado não seria um telhado,
e nada nesse quadro faria muito sentido!
no entanto, nada me parece mais frágil ~~
não fosse a certeza de que para além da sombra,
o objecto - se não for o sujeito -
existe,
e de sombra pouco teria!
belo post!
Ivens,
Nada mais precisa ser dito. Está tudo aí dito.
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