Angola tem tudo para grandes enredos romanescos. Um país que procura recuperar das suas duas identidades, da subalterna, tecida nas várias décadas da colonização e da autónoma, retalhada por trinta anos de guerra civil. Um povo de várias tribos que sempre mostraram fraca resistência à integração numa só, por obra e graça globalizadora de uma pequena esquadra de marinheiros tugas que por aqui amarou há séculos atrás. Um sistema político ocupado pelos vencedores das várias guerras, batalhas e guerrilhas em que o país se viu envolvido, algumas delas fomentadas por eles mesmos. Uma economia controlada pelos mesmos generais, políticos, praças e paisanos, que se viciaram em ocupar os tempos livres em jogos com regras cada vez mais parecidas com as do Monopoly. A extrema desigualdade entre as minorias, uma elite predadora de ricos, influentes e poderosos e o mais que maioritário cocktail de remediados, gasosados, pobres, analfabetos, miseráveis e tudo-junto. A posse de um maná muito procurado e de outros ainda escondidos ou inexplorados, que lhe tem permitido ocupar o espaço de um pequeno oásis de fartura num universo faminto e em reboliço. A invasão, nalguns casos ameaçadoramente gulosa, de gente dos quatro cantos do mundo, trazendo na bagagem hábitos, ritmos e perspectivas de vida pertencentes a um século que por aqui nunca passou. Os caldos, de pedra, de carne, de letras, de todas estas vivências e percursos, paralelos, transversais, oblíquos, que acabam por entrecruzar as pessoas e as suas expectativas, sonhos, afectos. E os sucessivos cortes no tempo e no espaço que tudo isto provoca nas vidas e nos destinos destes personagens em potência, que somos afinal todos os que por aqui andamos, que habitam este romance ainda não escrito, por aguardar alguém que traga no olhar a sagacidade de sentir este enredo e o saiba afiar na pena.sábado, 17 de janeiro de 2009
Um grande romance
Angola tem tudo para grandes enredos romanescos. Um país que procura recuperar das suas duas identidades, da subalterna, tecida nas várias décadas da colonização e da autónoma, retalhada por trinta anos de guerra civil. Um povo de várias tribos que sempre mostraram fraca resistência à integração numa só, por obra e graça globalizadora de uma pequena esquadra de marinheiros tugas que por aqui amarou há séculos atrás. Um sistema político ocupado pelos vencedores das várias guerras, batalhas e guerrilhas em que o país se viu envolvido, algumas delas fomentadas por eles mesmos. Uma economia controlada pelos mesmos generais, políticos, praças e paisanos, que se viciaram em ocupar os tempos livres em jogos com regras cada vez mais parecidas com as do Monopoly. A extrema desigualdade entre as minorias, uma elite predadora de ricos, influentes e poderosos e o mais que maioritário cocktail de remediados, gasosados, pobres, analfabetos, miseráveis e tudo-junto. A posse de um maná muito procurado e de outros ainda escondidos ou inexplorados, que lhe tem permitido ocupar o espaço de um pequeno oásis de fartura num universo faminto e em reboliço. A invasão, nalguns casos ameaçadoramente gulosa, de gente dos quatro cantos do mundo, trazendo na bagagem hábitos, ritmos e perspectivas de vida pertencentes a um século que por aqui nunca passou. Os caldos, de pedra, de carne, de letras, de todas estas vivências e percursos, paralelos, transversais, oblíquos, que acabam por entrecruzar as pessoas e as suas expectativas, sonhos, afectos. E os sucessivos cortes no tempo e no espaço que tudo isto provoca nas vidas e nos destinos destes personagens em potência, que somos afinal todos os que por aqui andamos, que habitam este romance ainda não escrito, por aguardar alguém que traga no olhar a sagacidade de sentir este enredo e o saiba afiar na pena.
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2 comentários:
Olha que a resenha da orelha do livro acabou de ser escrita.
abraço,
JPT.
JPT,
Bondade sua, meu Caro! E ainda por cima não sou apresentador de telejornais...
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